Posso ver?
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Congestionamento. Sim! Parecia que o progresso das metrópoles finalmente chegara às pequenas cidades. E eu, pacato cidadão, preso em um engarrafamento quase monstro. Como o combustível do tanque já estava mais do que na reserva e eu havia me esquecido de parar no posto, abri os vidros do bólido e desliguei o ar condicionado. Assim pude ter contato com o admirável mundo do asfalto e economizar a áurea gasolina.
Então pesquei uma conversa do carro ao lado (aliás, um SUV poderoso e de cor perolizada):
__ Não, mãe! Você não tem o direito de mexer nas minhas coisas!
__ Mas meu filho, eu tive que entrar no seu quarto e vi seu computador ligado.
__ Mãe! O que eu vejo, converso, ou pesquiso é só da minha conta; não da sua!
__ Eu sei que você tem direito à privacidade. Mas o que eu vi é inacreditável!
__ E o que você viu? Diz aí!...
__ Eu nem consigo descrever o que vi naquela página. Nem para o seu pai que é todo liberalzinho, separado e agora anda com as gatinhas dele eu consegui contar!
__ Nada a ver, mãe! Nada a ver...
__ E eu fico pensando, filho, o que tem naquelas pastas de nome estranho...
__ Mãe!! Você mexeu nas minhas pastas? A senhora perdeu a noção?
__ Acho que você e o computador são mais íntimos que nós: mãe e filho. E olha que eu nem abri nada.
__ Eu vou pedir pro meu pai trocar a fechadura do meu quarto. Pronto! Resolvido.
__ Só não se esqueça, filho lindo, que sou sua mãe, quero o melhor para você, te dei o computador, pago a luz da casa e ainda lavo TODAS as suas roupas, viu?...
Neste momento, apertei minha tecla SAP em árabe, fechei os vidros do carro e deixei a discussão prosseguir. Fiquei pensando quem estaria errado: a mãe? O filho? O computador? O pai ausente? A mídia? Ou eu a ouvir tudinho?
Claro que não consegui a resposta. Quem tiver a danada da resolução, mande-a para o meu e-mail, please. Só concluí que o ponto a que chegam certas relações, realmente é muito triste. Muito mesmo. Tinham tudo para serem boas, belas e serenas. E que viram? Sem comentários...
Então filhos(as), mães, pais, namorados(as), e afins: Serenem suas relações. Pra já! Prometo que vou fazer o mesmo.
Ah! Se a gasolina acabou? Deu para chegar ao posto mais próximo. Graças a Deus e à discussão no carro ao lado. Viu como tudo tem seu lado bom?
Abraço cordial!!!
Dedico este texto às mães e filhos. Dentro de carros ou não...
(Eduardo C. Souza é escritor e professor de História. Escreve neste espaço mensalmente. Assim que o trânsito fluiu, ele parou de pensar nisto e não provocou nenhum acidente).
Confira outros textos do autor no link: Coluna do Eduardo.