As Cruzadas II - Luiza Barbieri
Na madrugada escura e peculiar de 1333, há uma pequena e humilde cabana no topo de uma colina. E um fato há de acontecer e que mudará o rumo de toda a história. A cabana era habitada por duas crianças de cinco anos e uma mãe, que escondiam muitos segredos. Nesta madrugada, todas dormiam até que ouviram o barulho de animais inquietos e o cheiro de madeira queimada. Acordaram em um susto.
Um grupo de homens, montados em lindos cavalos brancos, arrombaram a porta, invadiram a casa e gritaram:
"Filhas de Satanás apareçam ou as queimaremos até chegarem ao inferno"
Um rosto se destacou de toda a multidão, era o homem que liderava essa tropa. Ele era belo e possuía grandes olhos azuis.
A mãe se levantou e foi a frente gritando: "Godfrey, você sabe que me matar será sua grande maldição, morrerá ao realizar o seu maior desejo, e quando mais próximo da morte estiver, mais irá chorar, porém somente de um lado a lágrima escorrerá. "
E assim a maldição foi dita, mas ele se sentiu ameaçado e partiu para cima dela com uma espada cortando-lhe o pescoço e falando-lhe uma única frase: "Morgana... Sempre te amei e para sempre a amarei.”
Godfrey abandonou a casa e deixou para os seus capangas uma única ordem de comando: "Façam o que quiserem com as pestes".
Os capangas, daquele que matara a mãe, invadiram a casa. E com uma única flecha acertou de raspão os dois pescoços criando assim uma mesma marca.
... 1349...
E então, elas acordaram com a respiração ofegante do sonho que se repete há dezesseis anos.
Nadiny: Ainda está turvo.
Elizabeth: Mas está melhor que na semana passada, pelo menos conseguimos ver o rosto daquele que matou nossa mãe.
Nadiny: E o nome também. Acho que era Gofrey, Godrey...
Elizabeth: Godfrey
Nadiny: Este nome não me é estranho... Não é o mesmo nome do cruzado? Soube que ele possui um filho. – E assim, juramos vingança. Temos que encontrá-lo! O amaldiçoaremos para que queime no fogo do inferno e que seus ossos sejam alimentos de satã.
E assim foi dita mais uma maldição, daquelas que nas veias corriam o sangue daquela que foi morta por Godfrey.
Os olhos de Elizabeth se vidram para o nada.
Nadiny: Irmã, está tendo outra visão?
Elizabeth: Hoje chegará dos mares a morte.
Em que ninguém é poupado...
Criança ou idoso.
Rico ou pobre.
Rei ou camponês.
Uma peste irá se alastrar
E dizimará.
Onde haverá abandono
E só se enxergará a tristeza profunda
Nos olhos de mães e esposas,
De filhos
Maridos, e pais.
Elas ouvem alguém batendo na porta.
Elizabeth olha para Nadiny em mais uma de suas visões: É ela... – a visão estava turva e sombria – a mulher que pode significar a nossa morte em agonia, ou a nossa vitória na riqueza... Sibyla.
Elizabeth diz em alto e bom tom: Entre!
Uma mulher elegante e bonita entrou aos prantos e segurou os ombros de Elizabeth desatando a chorar: Meu filho... O Satã o amaldiçoou... Uma pequena criança – a mulher diz entre soluço, balançando Elizabeth pelo ombro cada vez mais – você tem que salvá–lo... Ouvi muito a seu respeito e dos seus dotes medicinais... Você precisa me ajudar.
Nadiny: O que está acontecendo? - perguntou em tom de dúvida.
Sibyla: Uma doença...
Elizabeth: A peste.
E então foram as três mulheres caminhando pelo castelo. Mas o que essas mulheres não sabiam era que suas vidas estavam prestes a mudar pelo resto de suas vidas.
Por onde Sibyla passava, camponêses e nobres ajoelhavam-se.
Nadiny: Afinal que é você? Porque por onde você passa nobres e pobres ajoelham-se?
Sibyla: Pode-se observar que a senhorita não sai muito de casa.
Elizabeth: Realmente não saímos muito de casa, mas a senhora é a rainha Sibyla, casada com Baillian o primogênito de Godfrey- Falou Elizabeth para ver se a sua irmã desconfiava do recado.
Nadiny e Elizabeth trocaram olhares maliciosos de pura compreensão.
Quando Sibyla parou se depararam com um lindo e majestoso castelo.
Sibyla: Então chegamos, levá-las-eis ao quarto de meu filho.
Entrando no castelo, as irmãs ficaram abismadas pela grandeza do castelo, e foram subindo uma longa escadaria, guiadas por Sibyla.
Sibyla: Meu marido estará presente enquanto você examina meu filho na presença de sua irmã – disse ela, olhando para Elizabeth e voltando a chorar.
Ao entrarem no quarto a visão de Bayllian nocauteou as duas jovens adultas, principalmente Nadiny que se apaixonou pelo rapaz imediatamente.
Nadiny: Ele é lindo - sussurrou Nadiny para Elizabeth.
O jovem rapaz olhou para Elizabeth: Você deve ser a tão falada Elizabeth com seus dotes medicinais. Eu lhe imploro que descubra o que há de errado com o meu filho e salve-o deste destino que não o merece.
Elizabeth: Farei o que posso.
Ao se levantar para examinar o bebê, Elizabeth quase desmaiou... Era uma imagem horrível de caroços no corpo da criança de apenas dois anos... os caroços estavam negros e saindo muito pus.
Dia após dia de tratamento, e uma grande higiene, o menino foi melhorando.
Mas neste mesmo período de tempo, Nadiny estava altamente apaixonada por Baliyan e via que a grande fonte de união entre o lindo rapaz e Sibyla era a criança infeliz, então para ela só havia uma única opção: Matá-lo.
Depois de exatamente um mês, o dia acordou nublado e triste, Sibyla realizou a sua mesma rotina de sempre: levantar da cama, se trocar e abrir a cortina da janela. Porém, neste dia em especial, havia algo diferente na janela e a visão da cabeça decapitada de seu filho, no parapeito da janela, a fez dar um grito de terror e desmaiar.
Elizabeth e Nadiny estavam na sala de jantar do castelo tomando o café da manhã, quando ficaram sabendo da triste notícia.
Elizabeth ficou inconsolável, pois, após dias e dias de tratamento com o menininho, ela acabou tendo afinidade por ele e começou a amá-lo como um filho. E Elizabeth, que de burra não tinha nada, já havia observado o movimento de sua irmã.
Elizabeth: Nadiny! Eu não acredito que vossa mercê foi capaz desta barbaridade... Você está indo para o mal, está realmente virando filha de satã e tudo isso por um homem casado.
Nadiny: Irmã, você se apegou muito àquela criança e, além do mais, isso era necessário.
E, neste momento, viram um vulto saindo de trás da porta: Era Sibyla, a mãe da criança.
Sibyla: Sua habitante do inferno- disse referindo- se a Nadiny – Você matou meu filho... o primogênito do meu marido e pagará com as consequências.
Elizabeth tem outra visão: A profecia começa a se realizar
E a inocente em nome da culpada morrerá.
O fim a vida pode-se enxergar.
E a morte chegará.
Onde a criança será o fim da linha.
E por ganância morreu...
E por ela todos morreram.
Nadiny ficou furiosa ao perceber que essa profecia estava relacionada com a morte de sua irmã e com a sua, causada por Sibyla. E então uniu os seus poderes e voltou-se contra a mão do bebê. Sibila voou para o outro lado da sala e caiu ensanguentada gritando aos soldados:
Bruxa! Bruxa... Filha de Satã!
E então, é assim que tudo acaba, com as duas irmãs sendo queimadas na fogueira, morrendo e agonizando até se separarem pela primeira vez: Elizabeth vai para o purgatório e Nadiny para o inferno.
Luiza Barbieri – EF71